AMADOR OU PROFISSIONAL: O que difere um cantor do outro?
- Júlia Rittner
- 28 de jul. de 2022
- 2 min de leitura
Atualizado: 28 de out. de 2022

Será que realmente existe diferença entre o desempenho de cantores amadores e profissionais?
Com certeza podem haver diferenças no domínio técnico da voz, uma vez que o cantor profissional tem a necessidade constante de treinar, já que é sua profissão, enquanto para o cantor amador, essa é uma escolha livre. Mas vamos entender mais a fundo?
O treinamento musical regular traz diversos benefícios já comprovados pela ciência, um dos mais estudados é a neuroplasticidade. Ela é uma característica do sistema nervoso, que o permite se modificar, ou “moldar”, de acordo com as experiências que ocorrem durante toda a vida.

O cérebro de músicos profissionais é considerado um ótimo modelo para o estudo dessa área. Foram observadas diferenças estruturais e funcionais no cérebro de músicos e não-músicos, envolvendo áreas sensório-motoras, auditivas, linguagem, memória operacional e outras. Isso faz com que músicos processem a música de um jeito diferente!
Todo envolvimento musical promove neuroplasticidade, até mesmo escutar música, pois são atividades que ativam muitas áreas cerebrais. Porém, enquanto escutar música traz efeitos transitórios, o treinamento musical pode trazer efeitos duradouros. Outros fatores que influenciam os processos musicais são: a exposição prévia, preferência pessoal, envolvimento emocional, contexto cultural e repertório biológico de cada indivíduo.
As operações envolvidas no treinamento musical promovem:
Aprimoramento do controle motor
Refinamento da percepção auditiva (tonal e temporal)
Exercício de diversas modalidades e tipos de memória
Desenvolvimento do pensamento simbólico
Desenvolvimento de habilidades comunicativas e emocionais
Aperfeiçoamento da capacidade de monitoramento e integração de informações multimodais
Exercício da flexibilidade cognitiva e controle inibitório
Desenvolvimento de competências sociais
Contudo, ainda existem dúvidas se os resultados observados podem ter sido influenciados por outros fatores, como por exemplo, a idade do início do treinamento musical, uma vez que, na infância, nosso cérebro é ainda mais “moldável”. Outra questão é se características anatômicas pré-existentes podem predispor o indivíduo a desenvolver habilidades musicais.

Ou seja, a diferença comprovada entre músicos profissionais e amadores está relacionada, principalmente, ao tempo e à dedicação para estudar e praticar.
Por isso, incentivo meus alunos a praticarem todos os dias! Não necessariamente para se tornarem profissionais, mas para sentirem todos os benefícios, permanentes ou transitórios, que o canto pode nos trazer!
REFERÊNCIAS:
Alluri, V., Toiviainen, P., Burunat, I., Kliuchko, M., Vuust, P., & Brattico, E. (2017). Connectivity patterns during music listening: Evidence for action-based processing in musicians. Human Brain Mapping, 38 (6), 2955.
Foster, N. E. V., Zatorre, R. J. (2010). Cortical structure predicts success in performing musical transformation judgments. Neuroimage., 53 (1), 26-36.
Münte, T., Altenmüller, E., Jäncke, L. (2002). The Musician's Brain as a Model of Neuroplasticity. Nat Rev Neurosci., 3 (6), 473-8.
Steele, C. J. et al., (2013). Early musical training and white-matter plasticity in the corpus callosum: Evidence for a sensitive period. Journal of Neuroscience, 33 (3), 1282-1290.
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